quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Odonata – Ciclo de Vida

Os Odonata são animais hemimetábolos, desenvolvendo vários estados larvares antes da emergência do adulto, que é morfológica e etologicamente distinto das ninfas.
De uma forma geral, tudo começa quando a fêmea deposita os ovos directamente na água, nos caules das plantas aquáticas ou enterrando-os no substrato do fundo do curso de água. Algumas semanas depois surge a ninfa. As ninfas de Odonata são aquáticas, podendo ocupar vários tipos de ecossistemas dulciaquícolas.
São carnívoras, alimentando-se de vários invertebrados aquáticos e até pequenos peixes e girinos. O seu desenvolvimento depende da temperatura, da disponibilidade de alimento e, fundamentalmente da espécie. Desta forma, enquanto as libelinhas completam o seu ciclo de vida num ano, as libélulas podem levar de um a cinco anos.
Chegado o momento da eclosão, a ninfa sai da água e num local seguro ocorre a última muda que a transforma num adulto alado.
Muitas espécies de Odonata sincronizam a sua emergência de forma a aumentar as hipóteses de acasalamento, especialmente quando o período de voo é curto. Os adultos recém emergidos deixam para trás a exuvia (exosqueleto da larva) estabelecem-se na vizinhança do ponto de emergência e esperaram até estarem aptos para voar. Como são sexualmente imaturos, normalmente afastam-se dos territórios de reprodução. Este afastamento permite que a maturação decorra sem lutas ou ataques por parte dos adultos já sexualmente maduros. A duração do período de maturação é variável, mas mais longo na subordem Anisoptera e nas fêmeas. Desta forma, os machos maduros voltam aos locais de reprodução mais rapidamente que as fêmeas e estabelecem territórios que defendem de outros machos. O tamanho desses territórios depende do tamanho corporal da espécie e do número de machos que existam na área. Dentro destes territórios os machos para além de caçarem, esperam pela passagem de uma fêmea, para poderem acasalar e é, ainda, o local de postura dos ovos
O acasalamento das libélulas é único no mundo dos insectos. Antes de copular o macho tem que se “autofecundar” transferindo o esperma dos testículos para a bolsa de armazenamento e daí para o pénis. Durante o acasalamento, o macho agarra a fêmea pelo tórax ou atrás dos olhos com os cercos que possui no final do abdómen. A fêmea dobra o abdómen e adopta a posição de cópula. Após a cópula, que pode durar alguns segundos ou várias horas, muitos dos machos libertam a fêmea. Contudo, em muitas espécies o casal continua unido, voando juntos em parelha, enquanto ela põe os ovos. Esta situação é benéfica para ambos. A fêmea está protegida de pretendentes tumultuosos e desova em segurança, enquanto que o macho consegue que o seu esperma prevaleça. Contudo, este contacto, pode trazer alguns danos para a fêmea, já que os machos, com os seus cercos espinhosos prendem-nas de tal maneira que provocam ferimentos, por vezes graves, na cabeça e nos olhos.

E a pergunta surge:
-“Mas porquê esta guerra entre sexos?”

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Odonata – Aspectos Gerais

As libélulas e libelinhas são insectos pertencentes à ordem Odonata (do latim Odon = “Provida de dentes”). Este grupo surgiu no Carbónio superior, à mais de 300 milhões de anos, separando-se desde logo dos outros insectos alados e chegou aos nossos dias sem grandes alterações na sua estrutura básica. Actualmente conhecem-se cerca de 5700 espécies, distribuídas por todos os continentes, à excepção da Antárctida.
A ninfa é aquática e extremamente voraz, alimentando-se de outros insectos, alguns crustáceos e até pequenos peixes. Mas é nos adultos que os vários milhões de anos de evolução atingem o seu expoente máximo. As libélulas e libelinhas adultas caracterizam-se pelos enormes olhos compostos e pelos dois pares de asas bem desenvolvidas e cobertas por uma densa rede de nervuras. Estas duas características fazem com que sejam consideradas os “caçadores de topo” dos insectos. As suas poderosas asas permitem um voo extremamente rápido (podem chegar aos 30km/h) e em qualquer direcção e os seus olhos compostos por 10 a 30 mil lentes microscópicas (omatídeos), permitem aos Odonata ter um campo de visão de 360º, conseguindo detectar rapidamente qualquer outro movimento num raio de vários metros.
A ordem Odonata está dividida em três subordens: os Zygoptera (libelinhas ou cavalinhos-do-diabo) são mais pequenos e frágeis e possuem os dois pares de asas semelhantes; os Anisoptera (libélulas ou tira-olhos) são grandes e robustos e as asas posteriores são mais largas que as anteriores; e os Anisozygoptera, que contam apenas com duas espécies vivas apresentam características mistas entre as subordens anteriores.
Na Europa, tradicionalmente, associa-se as libélulas com o Diabo, a dor ou o perigo, enquanto que nos países asiáticos estas aparecem ligadas a temas como a tranquilidade, a força ou a coragem. A sua relação com o Homem ocorre nas mais variadas áreas. Fazem parte do regime alimentar de alguns povos de África, da América, do Médio Oriente e de algumas regiões da Indonésia. Na China e no Japão, algumas espécies são vendidas como receita contra as inflamações da garganta e contra a febre. Ocupam, ainda, um lugar na arte, aparecendo nas mais variadas formas de pintura e escultura e servindo como musa inspiradora a um sem número de escritores. Contudo o seu aspecto ecológico é o mais importante já que, como predadores, contribuem para reduzir as populações de insectos nocivos para o Homem e, para além disso, servem de alimento para vários animais vertebrados (alguns peixes alimentam-se das ninfas de Odonata e algumas aves podem utilizar os adultos como refeição). Esta posição intermédia na cadeia trófica, juntamente com a relação específica de algumas espécies com determinadas plantas, a rápida colonização de novos habitats e a resposta veloz a algumas alterações do habitat permite que os Odonata sejam considerados excelentes indicadores da qualidade ecológica dos ecótonos terra–água, da heterogeneidade do habitat (morfologia da margem e vegetação aquática, por exemplo) e, ainda, da dinâmica hidráulica da massa de água.
Por este grupo estar normalmente associado ao meio aquático, a poluição dos cursos de água e a substituição das zonas húmidas por construções humanas, são as suas principais ameaças, encontrando-se, algumas espécies, ameaçadas de extinção. Segundo a International Union for the Conservation of Nature and Natural Resources (IUCN), na Europa, encontram-se seis espécies com estatuto de conservação, mas muitas outras se poderão juntar, principalmente as espécies endémicas de determinados locais, cujas populações são reduzidas e a sua distribuição limitada.

Ouve um dia em que me perguntaram:
-“Mas esses bichos fazem mal ao Homem?”