domingo, 2 de novembro de 2008

Odonata – Habitat e Distribuição

Os Odonata distribuem-se por todos os Continentes, com a excepção da Antárctida, e estão normalmente associados ao habitat aquático. Embora os Odonata adultos possam ser encontrados nos mais variados locais e em qualquer altura do dia, são mais facilmente avistados junto de cursos de água doce e a meio do dia.
A escolha de habitat por parte dos Odonata depende sobretudo da água. Espécies pertencentes às famílias Platycnemidae e Gomphidae, estão quase exclusivamente associadas a água corrente, enquanto as famílias Coenagrionidae e Libellulidade estão restritas a habitats de águas paradas. Algumas espécies não suportam à dissecação do seu habitat e as flutuações de temperatura que estão associadas à alteração dos níveis de água, enquanto outras com rápido crescimento da ninfa ou ovos e ninfas resistentes à seca, conseguem sobreviver em lamacentos e efémeros charcos (por ex.: Lestes, Sympetrum). A vegetação aquática e ribeirinha fornece locais de pouso, descanso, postura e habitat para as ninfas. Desta forma, a sua presença/ausência e estrutura poderão influenciar a distribuição das espécies de Odonata. Algumas variáveis ambientais, como o pH, a condutividade, a temperatura e o oxigénio dissolvido, podem influenciar, igualmente, a distribuição das espécies. Condições extremas como lagos acidificados ou eutróficos suportam normalmente um elevado número de indivíduos pertencentes a uma reduzida quantidade de espécies, enquanto às condições intermédias, está associada maior diversidade de espécies especialistas. Factores como o parasitismo, a predação e a competição entre espécies pelos recursos, desempenham igualmente um importante papel na escolha de um habitat que permita a sobrevivência destes animais.
Nas regiões temperadas, a estação quente é normalmente demasiado curta para que ocorra a emergência de mais do que uma geração por ano, mas existe uma notável dicotomia entre espécies. Quando a água começa a aquecer, na Primavera, surgem em grande número sobretudo as espécies de crescimento rápido. São conhecidas como as espécies primaveris (“spring species”). As espécies que passam o Inverno sob a forma de ovo ou as espécies com crescimento mais lento, eclodem apenas numa fase mais avançada da estação quente e são chamadas de espécies estivais (“summer species”). Na Europa existe ainda uma espécie que, em condições favoráveis, possui duas gerações por ano (Sympetrum fonscolombii) e uma outra que dependendo do tempo de desenvolvimento na fase de ninfa, pode ser considerada primavil ou estival (Anax imperator).
Algumas espécies executam longas migrações que as levam a atravessar vários países e por vezes até continentes. A sua direcção segue uma linha directa e os obstáculos não são contornados mas sim sobrevoados, tendo sido detectadas espécies a mais de 5000 metros de altitude.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Odonata – Predadores e Presas

As ninfas de Odonata são carnívoras alimentando-se de uma grande variedade de organismos aquáticos. Não são predadores especialistas, alimentando-se daquilo que conseguirem capturar, como as larvas de moscas e mosquitos, pequenos anelídeos e crustáceos, girinos e alevins. Utilizam sobretudo a emboscada como técnica de caça, escondendo-se na vegetação ou nos sedimentos e lançando o seu lábio preênsil sobre a presa.
Os adultos são considerados os caçadores de topo dos insectos. Alimentam-se sobretudo moscas e mosquitos (Díptera), mas também borboletas e traças (Lepidoptera) e até de outros Odonata. Devido à estratégia de caça podem ser divididos em dois grupos. Um grupo é constituído por indivíduos que pousam num ponto alto do seu território e apenas levantam voo quando avistam uma potencial presa. Fazem parte deste grupo sobretudo as libelinhas e as libélulas da família Libellulidae. Do outro grupo fazem parte as espécies de maior porte, que patrulham o seu território em voo e apenas pousam se a presa capturada for demasiado grande para ser devorada em pleno voo.


Os Odonata são também presas. As ninfas servem de alimento sobretudo a peixes e a ninfas de Odonata maiores. Contudo, possuem algumas defesas nomeadamente a capacidade das ninfas de libélulas libertarem água do interior do seu corpo, em forma de jacto, impulsionando a ninfa rapidamente para a frente. A cor do seu corpo permite também a camuflagem no seu habitat e algumas ninfas possuem a capacidade de regenerar patas que tenham perdido. Os adultos, por seu lado, são sobretudo atacados por aves. Vespas e moscas predadoras fazem parte também da listagem de predadores dos Odonata, que ficam por vezes presos nas teias de aranhas. Durante a postura, a fêmea fica muitas vezes exposta à predação por parte dos anfíbios e répteis aquáticos.



Odonata – Anatomia de um predador

As ninfas de Odonata são extremamente difíceis de diferenciar, especialmente ao nível da espécie. Como em todos os insectos, o corpo divide-se em três partes: cabeça, tórax e abdómen. Ao contrário dos adultos, a cabeça é pouco móvel e os olhos de dimensões reduzidas. O seu aparelho bucal, único no mundo dos insectos, é constituído por um par de mandíbulas, por um par de maxilas e por um lábio preênsil que se estende rapidamente e permite a captura das presas. Este conjunto de órgãos é vulgarmente designado por “máscara” e apresenta variadas formas que, em conjunto com o tamanho dos filamentos que constituem as reduzidas antenas destes animais, permite a diferenciação de espécies. Ao tórax apresentam-se ligadas 3 pares de patas com morfologia muito semelhante às do adulto, sendo a locomoção a sua grande função. Na parte dorsal do tórax estão localizadas as 4 “almofadas alares" que darão origem às asas do imago. O abdómen é constituído por 10 segmentos. Nas libelinhas é fino, cilíndrico e alongado, enquanto que nas libélulas é bem mais volumoso e largo. O número de apêndices anais é também diferente nas duas subordens. Nas libelinhas são constituídos por duas lamelas caudais laterais ou “paraproctes” e por uma lamela caudal mediana ou “epiprocte”. Nas libélulas os apêndices anais formam uma pirâmide anal que se divide em 2 cercos (ou cercoides), 2 “paraproctes” e um “epiprocte”.

O adulto é bem mais fácil de diferenciar, muito embora algumas espécies apenas possam ser distinguidas por detalhes na sua morfologia. Em termos gerais, o adulto à semelhança da ninfa apresenta o corpo dividido em cabeça, tórax e abdómen. Na cabeça, estão localizados os olhos. Nas libelinhas os olhos compostos estão claramente separados e localizados nos dois lados da cabeça, enquanto que nas libélulas os olhos ocupam quase a totalidade da cabeça, estando em contacto numa considerável distância. Estes são constituídos por milhares de omatídeos que permitem aos Odonata possuírem uma visão de 360º. O tórax divide-se em duas partes. O “protórax” é de reduzidas dimensões e suporta a cabeça e o par de patas anterior. O “sintórax” é bastante volumoso e suporta as patas medianas e posteriores e as asas. As patas apresentam diferentes colorações, largura e quantidade de pelos, que permitem a diferenciação de espécies. Estão dispostas para a frente para permitir capturar as presas. As asas em número de 4 (2 anteriores e 2 posteriores) são poderosas e flexíveis, encontrando-se revestidas por inúmeras nervuras cuja disposição e tamanho permitem a diferenciação de espécies. O abdómen é normalmente cilíndrico e fino, podendo apresentar-se curto e largo nalgumas espécies de libélulas. Apresenta variadas cores e padrões e encontra-se dividido em 10 segmentos. É também aqui que estão situados os órgãos reprodutores. O macho possui os testículos no interior do nono segmento abdominal e o aparelho sexual secundário (constituída pelo pénis e pela bolsa receptáculo de esperma) no segundo segmento, enquanto que a fêmea apresenta os seus órgãos reprodutores nos oitavo e nono segmentos. No final do abdómen, os machos possuem umas estruturas designadas por “cercos” que permitem agarrar a fêmea durante o acasalamento.

Curiosidades:
"Aqui fica o peso corporal de algumas espécies de Odonata:
Calopteryx virgo – 91mg
Pyrrhosoma nymphula – 38mg
Ischnura elegans – 20mg
Anax imperator – 1200mg
Libellula depressa – 245mg
Sympetrum striolatum – 232mg"

Fonte: Askew, R.R. 2004. The Dragonflies of Europe (Revised Edition).Harley books
Dijkstra, K.B. (Editor) & Lewington, R. (Illustrated).2006. Field Guide of the Dragonflies of Britain and Europe. British Wildlife Publishing

Odonata – Ciclo de Vida (vídeos)

Ciclo de Vida das Libelinhas





Ciclo de Vida das Libélulas

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Odonata – Ciclo de Vida

Os Odonata são animais hemimetábolos, desenvolvendo vários estados larvares antes da emergência do adulto, que é morfológica e etologicamente distinto das ninfas.
De uma forma geral, tudo começa quando a fêmea deposita os ovos directamente na água, nos caules das plantas aquáticas ou enterrando-os no substrato do fundo do curso de água. Algumas semanas depois surge a ninfa. As ninfas de Odonata são aquáticas, podendo ocupar vários tipos de ecossistemas dulciaquícolas.
São carnívoras, alimentando-se de vários invertebrados aquáticos e até pequenos peixes e girinos. O seu desenvolvimento depende da temperatura, da disponibilidade de alimento e, fundamentalmente da espécie. Desta forma, enquanto as libelinhas completam o seu ciclo de vida num ano, as libélulas podem levar de um a cinco anos.
Chegado o momento da eclosão, a ninfa sai da água e num local seguro ocorre a última muda que a transforma num adulto alado.
Muitas espécies de Odonata sincronizam a sua emergência de forma a aumentar as hipóteses de acasalamento, especialmente quando o período de voo é curto. Os adultos recém emergidos deixam para trás a exuvia (exosqueleto da larva) estabelecem-se na vizinhança do ponto de emergência e esperaram até estarem aptos para voar. Como são sexualmente imaturos, normalmente afastam-se dos territórios de reprodução. Este afastamento permite que a maturação decorra sem lutas ou ataques por parte dos adultos já sexualmente maduros. A duração do período de maturação é variável, mas mais longo na subordem Anisoptera e nas fêmeas. Desta forma, os machos maduros voltam aos locais de reprodução mais rapidamente que as fêmeas e estabelecem territórios que defendem de outros machos. O tamanho desses territórios depende do tamanho corporal da espécie e do número de machos que existam na área. Dentro destes territórios os machos para além de caçarem, esperam pela passagem de uma fêmea, para poderem acasalar e é, ainda, o local de postura dos ovos
O acasalamento das libélulas é único no mundo dos insectos. Antes de copular o macho tem que se “autofecundar” transferindo o esperma dos testículos para a bolsa de armazenamento e daí para o pénis. Durante o acasalamento, o macho agarra a fêmea pelo tórax ou atrás dos olhos com os cercos que possui no final do abdómen. A fêmea dobra o abdómen e adopta a posição de cópula. Após a cópula, que pode durar alguns segundos ou várias horas, muitos dos machos libertam a fêmea. Contudo, em muitas espécies o casal continua unido, voando juntos em parelha, enquanto ela põe os ovos. Esta situação é benéfica para ambos. A fêmea está protegida de pretendentes tumultuosos e desova em segurança, enquanto que o macho consegue que o seu esperma prevaleça. Contudo, este contacto, pode trazer alguns danos para a fêmea, já que os machos, com os seus cercos espinhosos prendem-nas de tal maneira que provocam ferimentos, por vezes graves, na cabeça e nos olhos.

E a pergunta surge:
-“Mas porquê esta guerra entre sexos?”

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Odonata – Aspectos Gerais

As libélulas e libelinhas são insectos pertencentes à ordem Odonata (do latim Odon = “Provida de dentes”). Este grupo surgiu no Carbónio superior, à mais de 300 milhões de anos, separando-se desde logo dos outros insectos alados e chegou aos nossos dias sem grandes alterações na sua estrutura básica. Actualmente conhecem-se cerca de 5700 espécies, distribuídas por todos os continentes, à excepção da Antárctida.
A ninfa é aquática e extremamente voraz, alimentando-se de outros insectos, alguns crustáceos e até pequenos peixes. Mas é nos adultos que os vários milhões de anos de evolução atingem o seu expoente máximo. As libélulas e libelinhas adultas caracterizam-se pelos enormes olhos compostos e pelos dois pares de asas bem desenvolvidas e cobertas por uma densa rede de nervuras. Estas duas características fazem com que sejam consideradas os “caçadores de topo” dos insectos. As suas poderosas asas permitem um voo extremamente rápido (podem chegar aos 30km/h) e em qualquer direcção e os seus olhos compostos por 10 a 30 mil lentes microscópicas (omatídeos), permitem aos Odonata ter um campo de visão de 360º, conseguindo detectar rapidamente qualquer outro movimento num raio de vários metros.
A ordem Odonata está dividida em três subordens: os Zygoptera (libelinhas ou cavalinhos-do-diabo) são mais pequenos e frágeis e possuem os dois pares de asas semelhantes; os Anisoptera (libélulas ou tira-olhos) são grandes e robustos e as asas posteriores são mais largas que as anteriores; e os Anisozygoptera, que contam apenas com duas espécies vivas apresentam características mistas entre as subordens anteriores.
Na Europa, tradicionalmente, associa-se as libélulas com o Diabo, a dor ou o perigo, enquanto que nos países asiáticos estas aparecem ligadas a temas como a tranquilidade, a força ou a coragem. A sua relação com o Homem ocorre nas mais variadas áreas. Fazem parte do regime alimentar de alguns povos de África, da América, do Médio Oriente e de algumas regiões da Indonésia. Na China e no Japão, algumas espécies são vendidas como receita contra as inflamações da garganta e contra a febre. Ocupam, ainda, um lugar na arte, aparecendo nas mais variadas formas de pintura e escultura e servindo como musa inspiradora a um sem número de escritores. Contudo o seu aspecto ecológico é o mais importante já que, como predadores, contribuem para reduzir as populações de insectos nocivos para o Homem e, para além disso, servem de alimento para vários animais vertebrados (alguns peixes alimentam-se das ninfas de Odonata e algumas aves podem utilizar os adultos como refeição). Esta posição intermédia na cadeia trófica, juntamente com a relação específica de algumas espécies com determinadas plantas, a rápida colonização de novos habitats e a resposta veloz a algumas alterações do habitat permite que os Odonata sejam considerados excelentes indicadores da qualidade ecológica dos ecótonos terra–água, da heterogeneidade do habitat (morfologia da margem e vegetação aquática, por exemplo) e, ainda, da dinâmica hidráulica da massa de água.
Por este grupo estar normalmente associado ao meio aquático, a poluição dos cursos de água e a substituição das zonas húmidas por construções humanas, são as suas principais ameaças, encontrando-se, algumas espécies, ameaçadas de extinção. Segundo a International Union for the Conservation of Nature and Natural Resources (IUCN), na Europa, encontram-se seis espécies com estatuto de conservação, mas muitas outras se poderão juntar, principalmente as espécies endémicas de determinados locais, cujas populações são reduzidas e a sua distribuição limitada.

Ouve um dia em que me perguntaram:
-“Mas esses bichos fazem mal ao Homem?”